THIAGO MOTTA SAMPAIO
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Um inesperável 2016

1/11/2017

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Ao longo de 2016 muitos disseram que 2016 foi um ano horrível e traiçoeiro. Para mim, por outro lado, o segundo adjetivo seria bastante adequado, mas não o primeiro. Mas será que existe algum adjetivo que fosse comum a todas as situações?

Para o Brasil, de fato o ano foi terrível. O ano começou com um duro golpe na nossa já não muito confiável democracia (não, eu não sou fã da Dilma nem do PT, mas isso não muda o fato!), e terminou com um acidente aéreo que teve o poder de fazer torcidas criminosas se unirem por alguns dias em luto. Para o mundo, tivemos a notícia do Brexit e da eleição de Trump nos EUA, que deve impulsionar o movimento de ultra direita na Alemanha e na França. Quem se arriscar a fazer previsões sobre a Europa no futuro próximo pode ser internado desde já.

Para mim, por outro lado, o ano foi mágico. Traiçoeiro, como disse anteriormente, no sentido de que em 6 semanas perdi três pessoas muito próximas. Mas ao mesmo tempo foi um ano de mudanças tão grandes quanto as que estão acontecendo no mundo.

Em 2012, morando na França, comentei que gostaria de voltar ao Rio de Janeiro somente em 2016, ao final do mandato do Eduardo Paespalho na prefeitura. Curiosamente, talvez prevendo o “Estado Universal”, 2016 me reservou a liberdade do Rio de Janeiro. Foi o ano que me mudei. Para quem raramente passa por São Paulo, é no mínimo inesperada esta mudança para Campinas. Inesperado ter uma casa na qual sou o único responsável pela organização, podendo deixa-la “do meu jeito”. Inesperado o fim dos engarrafamentos de 3h para trajetos de 20 minutos, o que acabou me tirando o tempo utilizado para ouvir podcasts. Que bom! Assim eu me foco nos que realmente são relevantes. Liberdade da burocracia da UFRJ e a inesperada eficiência nos trâmites e dos funcionários da Unicamp que, também inesperadamente, me lembra demais os tempos de CEA-Saclay. 

Inesperadamente, eu que não me via com futuro nas ciências cognitivas no Brasil, me tornei professor de Psicolinguística da 2a melhor universidade da América Latina, o que também inesperadamente me levou de volta ao NeuroSpin, numa situação completamente diferente daquela de 3 anos atrás. Inesperadamente já tenho sala para meu próprio laboratório, três excelentes alunos, credenciamento na Pós Graduação e uma boa relação com a Fonoaudiologia e com o Comitê de Ética, conquistas que levariam anos se eu me mantivesse no Rio de Janeiro. 

Mais inesperado foram as consequências de 2015. Após ouvir (e de certa forma concordar) que eu poderia escrever minha tese de 398 páginas em menos de 100, com uma argumentação polêmica em relação a Linguística, mas que incentiva a sua relação com a Psicologia Cognitiva, fui indicado pelo Programa de Pós Graduação em Linguística da UFRJ para o Prêmio Capes de Tese 2016. A felicidade do reconhecimento interno durou alguns meses, até se transformar em um reconhecimento nacional, sendo eleito o autor da melhor tese de Linguística defendida em 2015 no país. Sem dúvidas aquele garoto que entrou na graduação há 13 anos atrás não esperaria por tamanho reconhecimento. Sequer o recém contratado professor da Unicamp no início do ano. 

Mas como 2016 ainda mantém o título de traiçoeiro, no momento em que me aproximaria de uma das paixões da minha vida, resolveu também retirá-la do roteiro alguns meses antes. 2016 teve disso! A virtude de demonstrar o porquê de a felicidade não ser um sentimento, mas o resultado de uma relação. Não se pode ser feliz sem que aconteçam coisas ruins. Não se pode ser triste sem que aconteçam coisas boas. A diferença está na proporção. E a proporção de 2016, ao menos pra mim, foi na medida exata para aumentar a auto estima sempre lembrando que a vida não é feita apenas de flores. E lembrar do que eu posso fazer e de onde eu posso chegar ao fazer o que gosto! E entender que chorar desta paixão me fez sorrir ao lembrar o porquê de ela ser tão especial, e de seus "sorrisos com a boca e com os olhos". E me fazer ver que esta é a melhor forma de levar a vida, e que eu posso leva-la assim.

O Brasil também, embora no sentido contrário, precisará aprender com 2016 para entender onde quer e onde pode chegar, e como pretende levar os seus próximos anos. Os arrependidos britânicos também precisarão aprender com o Brexit para entender seu poder de mudar o país e suas consequências. Os americanos precisarão aprender com o Trump o caminho que querem seguir para daqui a 4 anos. Só espero mesmo é que Alemanha e França tenham aprendido suficientemente com os dois pioneiros, e possam livrar este ano da mesma sensação que o mundo experienciou em 2016.

Enfim, este foi um ano intenso! Não melhor nem pior que os outros, apenas mais intenso em suas emoções, alegrias e frustrações. Enquanto uma mão retira algumas felicidades, a outra os traz na mesma proporção. 

2016, independente de tudo, foi um ano de realização, um ano de transformação! Transformações que estão mudando o Brasil, que estão mudando o mundo e, principalmente, que estão ME mudando. E que continue mudando. Infelizmente, ao menos em relação ao Brasil e ao mundo, este caminho parece ser o pior possível. Mas como dizia um amigo, as doenças só melhoram depois de alcançar o seu ápice! E ápice da minha vida pós graduação passou um pouco antes do ápice da onda ultraconservadora que atingiu o Brasil e o mundo. Espero que, em breve, a sina se repita e esta doença seja solucionada, que o Brasil e o mundo se tornem um lugar melhor pra viver, assim como Campinas tem sido um lugar melhor do que o Rio de Janeiro, ao menos pra mim.

E feliz 2017 a todos!
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Entrevista sobre doutorado sanduíche (2015)

8/12/2015

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Este é o tipo de postagem que deveria ir para o blog acadêmico. Mas como não é nada muito específico e contém assuntos que considero importantes para o público geral (além do fato de eu ainda não ter iniciado o blog acadêmico), decidi posta-los no blog pessoal. 

Esta é uma entrevista que concedi a duas alunas do curso de Jornalismo na Universidade Católica de Brasília. A ideia era conversarmos sobre o Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior, da CAPES, sobre a importância das pesquisas científicas para o país e sobre os cortes nas bolsas do Programa.

Seguem as perguntas que achei relevantes postar aqui e minhas respostas:

Por que você achou necessário viajar para completar sua pesquisa? Comente sobre sua experiência com o PDSE.

Tenho formação em Linguística enquanto Ciência Cognitiva, trabalhando com Psicolinguística e Neurociência da Linguagem na UFRJ. Meu projeto propõe uma hipótese alternativa a um dos fenômenos psicolinguísticos descritos na literatura (coerção aspectual), através de uma interface com a Percepção do Tempo. O problema é que existem poucos laboratórios que trabalham com Percepção do Tempo no Brasil. Na época que parti para o Sanduíche eu não conhecia nenhum, embora eles já existissem. Trabalhar no NeuroSpin em especial, facilitou enormemente minha pesquisa pois lá eu convivia com as discussões dos dois lados da interface linguagem-percepção do tempo.

Mais além, a Psicolinguística é praticamente desconhecida no Brasil fora dos Programas de Pós Graduação em Linguística e em Antropologia. Já a Neurociência da Linguagem não preciso nem comentar. A maioria das pessoas, quando escutam falar do assunto, pensam logo em Programação Neurolinguística (PNL) que não tem absolutamente nada a ver com Linguística! A disciplina ainda é muito recente no país. A primeira tese foi defendida em 2002 e o primeiro laboratório foi criado em 2006 na UFRJ, o ano que eu comecei minha iniciação científica. Sou da primeira geração de IC e, agora, de doutores do laboratório. Grosso modo, no Brasil, a maioria das pessoas com quem posso discutir o assunto em detalhes são minha orientadora, meus colegas de laboratório e alguns cientistas que abrem espaço para a interdisciplinaridade nas Universidades do país.

Quais os ganhos (importância) de sua pesquisa para o Brasil?

Acho que é importante definir “importância para o Brasil”. Normalmente, quando se ouve isso, prevalece uma espécie de senso comum em que o conhecimento deve trazer algum lucro ou ter aplicabilidade clara e imediata. Vocês podem até ver isso na Engenharia, na Medicina etc. Mas a ciência em geral não é feita pra isso, elas são feitas para gerar conhecimentos que poderão, no futuro quem sabe, ser aplicadas em setores que possuem interface com, digamos, o ‘mundo real’.

Por exemplo, você vai ver a Engenharia utilizando conhecimentos da Física e da Neurociência para criar aparelhos de ressonância magnética (MRI). Estes aparelhos voltam para as neurociências para melhorar suas pesquisas. A Neurociência, por sua vez, não apenas usa os produtos da engenharia, mas também vai fornecer conhecimentos para a Medicina que também fará uma aplicação prática. Dependendo da pesquisa, a Neurociência, a Educação, a Informática e outros, também usam e fornecem conhecimentos da e para a Linguística. A Neurociência da Linguagem busca monitorar o funcionamento da linguagem no cérebro. E assim, aos poucos, podemos compreender o que causa e como lidar com algumas disfunções da linguagem como, por exemplo, a dislexia e dislalia. Mas antes de chegarmos a estas aplicações práticas, existe um longo caminho a ser percorrido. E as aplicações são consequências da compreensão de um fenômeno. Não sabemos que podemos alcançá-las quando iniciamos uma pesquisa de base.

Se por importância entendermos o ganho imediato para o país, dependendo da área de atuação, qualquer resposta além de ‘não sei’, muito provavelmente será mentira. Se entendermos por importância o conhecimento adquirido pro Brasil, também seria no mínimo egoísta citá-los uma vez que os ganhos são para a disciplina e para a ciência em geral. Por isso nossos trabalhos devem ser reproduzidos e discutidos nos quatro cantos do planeta antes de ser realmente aplicado. Se a aplicação for descoberta primeiramente no Brasil, aí sim podemos falar em importância para o país. Mas para que isso aconteça, é preciso estar atento ao conhecimento. Por isso é importante que o conhecimento seja discutido e desenvolvido no Brasil. Criatividade para usar e aplicar o conhecimento nós temos de sobra, mas não se faz omelete sem ovos.

O que você acha da suspensão do programa para os novos candidatos? Acha uma perda para o país?

Esse é um assunto polêmico. Vejo muita gente reclamando da CAPES, do MEC, mas a agência e o ministério são vítimas do corte que o Governo impôs a eles. As agências não podem simplesmente enviar o aluno pro exterior e, no meio do estágio, cortar a bolsa de todo mundo e mandar voltar por falta de verba. Meses antes da minha saída do Brasil, em 2012, muitos bolsistas reclamavam dos atrasos constantes no pagamento. Eu saí com medo mas, felizmente, deu tudo certo e o pagamento das bolsas se estabilizou. Por outro lado sei que este problema pode arruinar os planos e sonhos de muitos bolsistas que já tinham se programado para ir, e agora não terão tempo hábil para adiar a viagem. É uma questão complicada que precisa ser observada pelos dois lados para tentar não ser injusto com nenhum deles. Na irresponsabilidade com a pesquisa dos doutorandos, a CAPES mostra sua responsabilidade com a vida dos mesmos lá fora. Nesse ponto eu concordo com a CAPES, o que não significa que sou a favor dos cortes.

Na sua opinião, qual seria a melhor solução a ser tomada pelos estudantes? E pelo governo?

Se quisermos reclamar e nos manifestar, isto deve ser feito para o Governo, não contra a CAPES. Talvez uma conversa com o ministro Renato Janine uma vez que ele já mostrou dar ouvidos para a opinião pública e tem algum diálogo com o Governo. Não acredito que resolva, mas ao menos é uma pressão que acredito fazer mais efeito do que uma reclamação contra a CAPES.

O problema é que entramos no novo ciclo. Infelizmente, as contas do Governo também sofreram bastante. Esta recessão é necessária frente à irresponsabilidade fiscal dos últimos quatro anos. Meu questionamento seria em cima das prioridades do Governo. Não vou simplesmente dizer que o Governo não está preocupado com a Educação e com a Ciência somente porque estes são os setores que mais afetam o atual momento da minha vida. Não tenho minhas conclusões sobre a situação dos outros setores e a redistribuição de verbas. A única coisa que posso dizer é que o Governo, no mínimo, deveria dar uma explicação bastante clara e objetiva sobre a motivação dos cortes e o redirecionamento destas verbas. Da mesma forma que temos que prestar contas ao Governo sobre nossas bolsas, acho que eles deveriam prestar contas aos que foram de alguma forma prejudicados por estes cortes.
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Manobras políticas e o conceito de heroi

7/5/2015

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O grande problema da(s) manobra(s) do Eduardo Cunha não é nem a redução da maioridade penal ou o financiamento privado de campanha. Muita gente, que já o considerava um herói, irá vê-lo um verdadeiro mártir depois de tanta manifestação. E, caso ainda lembrem, vão esquecer o passado e relevar o presente e o futuro desse indivíduo.

O povo ainda clama por um herói, mesmo sem saber bem pra quê. Seria o Aécio. Não deu certo. Agora estão nomeando Eduardo Cunha como o novo herói nacional. Eduardo Cunha! Aquele mesmo que age com ética e punho firme pra conseguir passagens aéreas para os cônjuges dos parlam
entares. Aquele mesmo que faz de tudo para anistiar a dívida de 2bi dos invest..., digo, dos solidários doadores de sua campanha eleitoral, as seguradoras de planos de saúde que te negam os atendimentos fundamentais pelos quais você pagou! Isso tudo, exatamente no momento em que o país está em recessão. Ainda bem que o inimigo público número 1, aquele que só faz roubar nosso dinheiro e destruir a economia (não que eu discorde disso), vetou as medidas do nosso corajoso e digníssimo herói.

Na minha humilde opinião, Cunha tá pouco se lixando pra maioridade penal. Mas com tanta gente clamando pela redução, é a forma que ele encontrou para ganhar popularidade depois de tudo que vêm acontecendo, e principalmente, diante dos poucos que acompanham um mínimo da política do país e se lembram do que ele já tentou fazer, já fez e ainda vai fazer daqui pra frente.


E com isso é possível redefinir o conceito de herói, esquecendo o dicionário e observando o uso real do termo. Herói é aquele que sofre oposição, independente de motivada ou não, para defender não aquilo que é certo, mas aquilo que eu acredito. Independente de eu ter pensado a respeito ou não! Independente de eu saber do que estou falando ou não! Afinal, "a verdade sou eu".
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minha praia, minha tese

3/7/2015

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Há sete anos escuto o Prof. Luiz Bevilacqua comparar a ciência com o mar. E uma conversa de fim de ano com uma grande amiga surfista me fez perceber o quanto isso faz sentido. 

Quando saímos da praia para entrar numa onda, não devemos esperar a onda passar, nem torcer para que ela nos deixe em algum lugar mais tranquilo em algum momento. É preciso aceitar o desafio e surfar a onda, fazer cada manobra pensando na próxima, mas principalmente, não se preocupar com o lugar em que iremos parar no final da aventura.

Há cinco anos, eu saí da minha praia (Linguística) e procurei a Física. De lá pra cá passei pela Psicologia, Antropologia, Biologia, Astrofísica, Jornalismo, Fotografia e tantas outras ondas. Há dois, me vi completamente atordoado pelo Universo Observável de informações às quais tive acesso, apesar de todas estas ondas serem tão distintas uma da outra. Some agora o fato de saber da existência de um Universo (ainda)Não-Observável de temas e variáveis que eu ainda não tinha acesso enquanto pos-graduando em Linguística. Tudo isso me mostra que, apesar de todo esse caminho, eu ainda não sei quase nada.

Hoje percebo que este abalo foi uma manobra mal feita de um surfista iniciante, uma onda mais forte com a qual ainda não estava acostumado. Uma onda necessária para mostrar que, apesar de distintas, todas as ondas pertencem ao mesmo mar. Que todas as ondas são formadas pelo mesmo vento. Que não existem todas as ondas: a onda é uma só!

Hoje finalizo a beta de um dos documentos mais importantes da minha vida. Importante não pelo que ela me traz, nem por marcar o fim de uma fase. É importante por conter toda a loucura presente em meus últimos cinco anos. Importante por não ser a concretização de um tabu, mas por ir contra ele. Tudo o que eu fiz pra viver, pra me divertir, pra passar o tempo. Todas as viagens, todas as brincadeiras, todos os mangás e animes, todas as músicas. Todas as noites em claro e manhãs no escuro pra amenizar a experiência do calor do Rio. Tudo o que aquela criança dos anos 90 sonhava ser quando crescer, todas as disciplinas que um dia me diverti em cursar e, em especial, todas as pessoas que passaram pelos últimos 31 anos de minha vida. Tudo está devidamente representado neste documento.

Por tudo isso eu tenho o prazer de dizer:
Minha tese não é algo que eu fiz.
Minha tese sou eu!
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Ond(in)as da minha vida

12/2/2014

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Quando pequeno, eu não entendia o sentido de ir à praia. Afinal, qual a razão de passar horas torrando no Sol do Rio de Janeiro, que nos queima todos os dias ad secula saeculorum? Apesar da incongruência lógica, apenas passei a odiá-la lá para os meus 10 anos, quando me convenceram a ir em alguma praia da Zona Sul da qual não consigo lembrar. Apesar do calor, a princípio vi que era possível se divertir com os conhecidos naquele forno. Mas qual a graça de ir na praia e não aproveitar a água? Eis que num determinado momento, uma onda um pouco maior por sorte não mudou minha vida ad eternum. Não me perguntem o que aconteceu depois. Apenas passei a ter motivos para não gostar de praia, embora não lembrasse de muita coisa.

Esta sensação mudou ligeiramente quando conheci finalmente uma praia bem longe do Rio. A primeira e mais marcante foi a praia de Tambaú em João Pessoa. Mesmo odiando praia, por algum motivo eu gostava de andar à sua borda. Mas como o canto da sereia, o mar me chamava. Aos poucos eu saí da calçada e caminhei pela areia...  minutos depois já estava na água, quentinha... em pouco tempo a água já estava na minha cintura, até que uma onda um pouco maior levou minha primeira câmera fotográfica.

Muitos anos depois conheci Floripa. Não há como ir a esta Ilha e não gostar de suas praias. Mesmo meu histórico com o mar não era suficiente para eliminar aquele canto que me chamava com cada vez maior intensidade. Conheci melhor o mar, fiz as pazes com ele e ficamos bons amigos. Mais do que isso, o mar me apresentou àquela alma que sempre crescia quando eu chegava perto, a onda, que saíra da imensidão do mar para a vida terrestre, e se apresentava pelo nome de Ondina! 

Parece que desde os meus 10 anos, ela sempre me quis por perto, mesmo sem me conhecer. E eu, sempre a quis por perto após a conhecer. Mesmo que por rápidas duas semanas, aquela estadia em Florianópolis foi especial. E em grande parte, isto se deve a ela, a doce e carinhosa Ondina. Mas poucos meses depois, uma vida um pouco maiorleva a Onda de volta pro mar. 

Por um lado, esta grande Onda descansa de um mundo corrido e volta a viver no seu tranquilo e imenso mar. Por outro, deixa saudades, boas lembranças e a certeza de que, um dia, aquela criança irá desbravar o mesmo mar, e ambos poderão novamente conversar sobre este mundo louco em que um dia viveram.

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A festa dos Sete (La fête du sept)

7/9/2014

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15 de julho de 2013, madrugada pós Fête Nationale, eu e Mônica caminhamos em busca de uma gare aberta para voltar para Alesia e para a Place d'Italie. Foi difícil, mas encontramos. Uma fila enorme que deixava as do Banco do Brasil no início de mês com inveja. Controlando, havia um esquadrão de choque que lembrava as recentes manifestações nas terras canarinhas.

Paramos num bar próximo, nele passamos o tempo e conversamos. Ao conversar, uma família amante do futebol de Nanterre nos abordou, curiosos e maravilhados pela nossa conversa em português. Sim, somos brasileiros! E iniciou-se o ritual de reverência ao nosso futebol, com muito mais devoção do que o mais otimista dos brasileiros poderia imaginar. Neste ritual incluiam oferendas como o suco que recusamos.

Infelizmente, pra ele, eu sou herege! Desde 2006 não consigo mais torcer pela seleção e sequer sabia quem estava jogando com a camisa amarela da CBF. Ficava sabendo dos jogos em cima da hora. Nem mesmo as convocações de Jefferson me empolgavam. Ao ver esta reação inesperada, o pai francês tenta mudar minha cabeça, me convencer de que o bando da seleção brasileira pós 2002 já havia se tornado um time. Declaradamente, a devoção pelo futebol brasileiro era muito maior do que a apenas simpatia com seus próprios companheiros de pátria.

Ao final, impressionado com a paixão da família, passei a conversar sobre o "futebol brasileiro", o futebol que se joga dentro do território, em especial sobre Botafogo. E sim, eles conheciam o Botafogo, o Garrincha etc, apesar de não torcerem para nenhum clube brasileiro... até então. 

Impressionado com o ritual de reverências e de oferendas, me sensibilizei com a paixão que nem mesmo nas épocas de ingenuidade eu, brasileiro, consegui um dia demonstrar pelo esporte. A oferenda partiu da minha parte agora. Como portava uma camisa retrô por baixo da pele alvinegra de 2011, ofertei ao seu filho, agora botafoguense, a camisa SETE. SETE da importância que ela tem para o clube, SETE de Garrincha, SETE de Túlio Maravilha e de muitos outros. Curiosamente, há SETE dias para a data completar um ano, a equipe que os impressionou profundamente, também os frustrou na mesma proporção com os SETE gols levados no SEXTO jogo do Brasil nesta Copa do Mundo.

O que nos reserva o sétimo?

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zombies de ma patrie (zumbis da minha pátria)

3/2/2014

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Como me ensinou Suzana Herculano, "É Batata!", ou quase. Desde setembro a pergunta retórica mais frequentemente direcionada a mim é: "O que você mais sente falta da França? O Frio né!? Difícil voltar ao Rio de Janeiro depois de ter experienciado -17C". Minha resposta sempre foi um sonoro: "COM CERTEZA!", enquanto enxugava o suor que incomodava minha face só em lembrar do boneco de neve e de meus passeios invernais na Floresta Encantada de Gif-Chevry.

Eis que num dia 03 de fevereiro a ficha cai. Poucos minutos após a repetição do ritual, eu e os meus passamos pelo "corredor onde todos se encontram". Lá, uma pessoa em especial estava diferente. Alguém que talvez viesse falar comigo sequer olhou pra minha cara. Imediatamente me veio à cabeça uma novela na qual contracenei nos últimos três dias e que acreditava já tê-la enterrado.

Mais evidências do inevitável viriam a tarde. O fóssil de uma lagartixa decorando o ar condicionado da sala seria o primeiro sinal. O "Segundo" veio com os braços zumbis "vultuando" a janela do laboratório. Reles prelúdios para o que estava por vir.

Após presenciar algumas injeções de gel eletrolítico (essa parte era normal), eis que ressurge das cinzas aquela discussão, aquela cuja última resposta escrevi cinco rascunhos para não dar margem aos "você é muito grosso" ou a más interpretações. Assim como a Bennu, ela retorna mais forte e com sangue nos olhos. Assim como em Jurassic Park, o fóssil virou lagartixa. Assim como em Resident Evil (falo do jogo) os vultos zumbis enfim se encontraram e iniciaram seu ataque. Por essa Olavão não esperava: o mundo não irá acabar num Golpe Comunista, mas num Apocalyse Zumbi.

Zumbis aparecem e desaparecem o tempo todo, eles são basicamente mortos vivos que vagam por aí em busca do próximo pedaço de carne humana. São seres que atacam qualquer ato de humanidade reeditando um grande dilema: "usar sua última bala para tentar explodir seus miolos e devolvê-lo ao além, ou correr e ser morto pelos que estão famintos mais a frente?". 

Eu que junto ao meio irmão do Che, elaborava planos…. digo, histórias de zumbis cubanos que invadiam o CEA-Saclay em pleno inverno francês. Eu que junto a uma sulafricana me divertia contando histórias de terror na Floresta Encantada de Chevry a -12C. Eu enfim encontrei algo que me faz mais falta que uma temperatura agradável: um clima agradável! Um clima para conversar, um clima para pensar junto, um clima para que todos os ainda humanos deste meu terceiro roteiro de terror, agora em terras tupiniquins, consigam pensar e agir um pouco melhor que os cubanos de "Juan de los Muertos" . Porém, num país que se divide entre reaças e reaças contra-reaças, dificilmente repetirei com sucesso as ações de cada dia de um povo sofrido de guerra, que preza pela fraternidade, mesmo que a igualdade ainda esteja longe de se tornar realidade.

Por fim, hoje a resposta foi corrigida com um sonoro: "NÃO!", enquanto enxugava os vestígios de lágrimas que incomodavam a minha face, só em lembrar do espantalho e de nossos ‘passeios' de Limousine Carioca para o Fundão. Mas desta vez me controlei, e ri! Ri de nostalgia. Afinal, estou de volta ao Brasil e este tipo de situação seguirá sendo a coisa mais comum do mundo. Enfim me sinto brasileiro, enfim me sinto carioca e orgulhoso de carregar a fama de alegre, gentil e solidário, como dizia a Renata de São Bernardo.

De qualquer forma, hoje foi um excelente dia, um dos mais importantes da vida de dois amigos que estão a prestes de se livrar da vida de doutorando. E dia 7 verei mais uma. Eu sigo na luta. Você também. E a vida segue!
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O que é vida e o que é sonho? Será que morri?

6/5/2013

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Antigamente dizia-se que o coração era o responsável pela vida, ao impulsionar o sangue para o corpo. Porém pacientes com morte clínica por parada cardíaca podem ser salvos por certas técnicas de ressuscitação (Álvarez-Fernández & Gazmuri, 2008) como a utilização de vasopressores (Casdorph, 1964) e desfibriladores (Zoll, 1956; Fornazier et al. 2011). Alguns deles passam por Experiências de Quase Morte (Souza, 2009 e inúmeros outros) e relatam visões e experiências num outro mundo, contatos com divindades que os devolveram ao mundo mortal através de um túnel pelo qual foram sugados do mundo dos mortos para completar sua missão na Terra. Por outro lado, não existem relatos médicos de EQM com morte cerebral, uma vez que nenhum paciente voltou para contar a história (Byrne et al. 1984; Donohoe et al. 2003, mas leiam também Feldman et al 2000, Sperling 2004, numa curiosa e interessante discussão sobre o prolongamento da "vida" de grávidas com morte cerebral com o objetivo de salvar o bebê).

Porém hoje passei por uma experiência esquisita. Já é de conhecimento de alguns que eu sofro de paralisia do sono. Uma das características de alguns portadores deste atraso no “arranque” do córtex motor é o que chamam de sonho consciente, que eu jamais havia presenciado até então. Eis que hoje eu tive a consciência de estar deitado em minha cama esperando meu lobo frontal acordar, quando passo por uma “EBS” (Experiência Bem Singular).

Espero que meus amigos não se assustem, estou bem... embora continue o mesmo louco antissocial de sempre. Mas enfim, a sensação do sonho consciente (ao menos a minha) foi curiosamente semelhante aos relatos de projeção astral dos pacientes que sobrevivem à morte clínica cardiovascular. E não para por aí! Após um sonho relativamente ruim (mas suportável), a volta de minh’alma ao meu corpo se deu através de um túnel que me sugou do mundo de Dionísio de volta ao studio para que eu pudesse me arrumar e ir ao trabalho. Neste túnel, pelo menos nove meses da minha vida passou em questão de segundos diante dos meus olhos, um ano bastante estressante e sofrido que ainda está por terminar ao final de agosto. E se você ainda não ficou assustado com a situação, nesta viagem tuneal eu “vi” onde estava um creme para rosto que eu tinha perdido há duas semanas e meia e jurava ter esquecido em Londres.

O único contra-argumento que não caiu por terra ainda é o fato de eu não ter encontrado nenhuma entidade divina do lado de lá que me dissesse: "Volta pra terra meu filho que não quero você me enxendo a paciência não!". O que foi uma pena, pois desde moleque ainda sonho em me tornar um cavaleiro de Athena. Enfim, Paralisia do Sono e Experiências de Quase-Morte, romanticamente ou neurofisiologicamente, qualquer semelhança não é pura coincidência.

E a pergunta que fica no final é: Porque os médicos não comparam relatos de EQM com o de pacientes com Catalepsia e outros distúrbios do sono? Será que as experiências são idênticas? Será que são diferentes? Será que o sonho humano não possui algum tipo de padrão que evitaria tratar as EQM como um fenômeno tão especial assim?

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Torcida a Distância

3/10/2013

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Por motivos de falta de tempo, meu terceiro texto virá antes do primeiro. Eu não poderia deixar esta oportunidade passar, e hoje inicio minha segunda temporada\função no Botafogo News com um tema que estava fora dos que eu havia preparado: É CAMPEÃO! 

Para não começar o texto sem apresentações, farei um comentário rápido sobre mim. Até meados de 2012 eu escrevia para o Botafogo News sobre o Futebol Americano do Botafogo que eu fotografava. Desde agosto faço um estágio próximo à Paris e fui realocado para a função de correspondente internacional do BN junto à Deborah Calazans que está no Canadá (sem trocadilhos). 

Esta é a primeira vez que acompanho uma final tão longe do Botafogo. Confesso que com tanta coisa na cabeça, ao longo dos meses perdi bastante da vontade de acompanhar futebol todo fim de semana. Mas ao menos o Botafogo eu sempre acompanhei através das rádios na internet e pelo twitter do Botafogo News. Mas este domingo foi especial! Foi quase completamente improdutivo no meu trabalho, passei o dia inteiro nervoso e sem concentração sem saber o porquê. E tudo o que parecia que iria dar errado no final acabou dando certo.

Pra começar o dia iniciou com uma bela vitória do Chievo Verona (meu time na Itália por motivos pessoais) sobre a Napoli por 2x0. Em geral, quando o Chievo joga muito o Botafogo não joga nada. E o Chievo que faz uma péssima campanha na Lega Calcio faz isso logo no dia da final da TG? Esta superstição me deixou bem nervoso. Quanto mais próximo da hora do jogo, mais estranho eu me sentia e menos eu trabalhava. Depois de muito tempo liguei a TV para ver o jogo... com uma hora e meia de antecedência! Esse era o tempo que eu chegava adiantado ao Engenhão quando precisava ler alguma antes da partida (caso alguém lembre de um louco que ficava lendo na arquibancada até a entrada dos times em campo). 

Começa o jogo e o prédio calmo começa a se tornar agitado. Acho que nunca liguei a TV num volume tão alto, acho que nunca gritei tanto num jogo depois dos assaltos contra Figueirense e Flamengo alguns anos atrás. Acho que nem quando saí correndo do cinema por dor de cotovelo eu devo ter ficado tão mal falado quanto ontem... mas "tant pis"! Fazia tempo que não sentia esta emoção, e sentí-la a mais de 3 mil km só fez intensificar a emoção. Emoção que levou um balde de água fria no lance do gol do Vasco no 1o tempo.... mas como tudo estava dando certo o Cazalberto fez o favor de se enrolar e chutar pra fora. De volta ao jogo, Botafogo ataca, ataca e não chuta. Aqueles jogos com cara de que o Botafogo vai jogar como nunca e se ferrar por não matar o jogo (sentimentos de 99).

Metade do segundo tempo e seguimos sem vestígio de atacante. O "homem bicicleta" não sabe pedalar na água pra pescar bacalhau. Vitinho entrou querendo levar a bola pra casa e nem reparei no Bruno Mendes que entrou mais no final. O Vasco começou a gostar ada partida mas, como tudo que parecia ruim dava certo no final, o Botafogo mostrou que os melhores atacantes vêm das laterais: depois de Julio Cesar contra o Fla, Lucas consegue, enfim vencer o goleiro e colocar a bola pra dentro. Em seguida vem outro banho de água fria com o gol do Vasco.... mas como tudo estava dando certo o gol foi corretamente anulado.

Quatro horas a frente, o jogo se aproximava do final quando a França atravessava as 22h. A lei do silêncio aqui é rígida e eu tive que abaixar a TV e diminuir os berros... só diminuir porque o jogo ficou cada vez mais tenso. Eu não podia gritar, ninguém me entende por aqui e os vizinhos deviam achar que eu estava brigando com alguém dentro de casa quando Vitinho segurou a bola e não tocou pro Bruno matar a partida. Mais a frente, nos segundos finais o Botafogo dá o susto de sempre recuando e a zaga olhando a bola ricochetear em todos dentro da área no último lance. Mas enfim chega o apito final mais esperado dos meus últimos 7 meses.

A primeira taça comemorada fora do país e um trabalho interminável acumulado. Depois de um último grito de desabafo pelo título e da última colherada do pote de Nutella que acabou durante o jogo, consegui me concentrar e trabalhar... sigo atrasado, mas valeu a pena!
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Rio-Paris: Quanto custa um ingresso?

1/13/2013

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Texto escrito para o BotafogoNews no dia 13/01/2013
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Ao ser ‘‘movido’’ para o cargo de correspondente internacional do BotafogoNews me bateu uma grande dúvida: Quais temas eu poderia comentar? A verdade é que após uma mudança tão radical, acompanhar o Botafogo ficou cada vez mais difícil durante os primeiros meses. Por outro lado, no velho continente tenho a experiência de conhecer o futebol e a organização dos clubes e estádios considerados os mais modernos do mundo. Então, depois de tanto escutar de jornalistas que o estádio mais moderno do Brasil possui nível europeu, pensei em iniciar uma série na qual irei compará-lo aos estádios do Velho Mundo.

Nesta primeira parte porém, farei apenas uma comparação mais geral sobre o valor dos ingressos que economizará leitura nas postagens seguintes. Em breve escreverei minhas impressões sobre o Parc des Princes, o Stade de France e possíveis outros estádios que eu frequentar nesta minha estadia, sempre os comparando-os com o estádio do Botafogo.

PARC DES PRINCES

Acredito que o primeiro ponto a ser comentado aqui seja o preço dos ingressos para entender um pouco a dinâmica dos estádios lotados que Maurício Assumpção sempre reclama mas, na minha humilde opinião, não faz por onde. No Brasil os torcedores reclamam a todo momento do valor das entradas, e sabemos bem que este é um dos pontos cruciais para que os estádios continuem vazios ao menos nas fases iniciais de qualquer competição.

Uma das facilidades de qualquer evento na França é a possibilidade de comprar as entradas pela internet. Simplesmente NÃO HÁ EVENTO SEM VENDAS PELA INTERNET (isso exclui o PSG x Barcelona que comentarei mais à frente). Apesar de o transporte parisiense te levar a qualquer ponto da cidade em questão de minutos a facilidade para comprar sem sair de casa é enorme. Outra facilidade no site do Paris em especial foi a possibilidade de pagar os ingressos via Paypal, o que diminui ainda mais o trabalho e o risco de procurar cartões e dados para inserir num formulário eletrônico. No que se refere à venda pela internet não tenho o que reclamar do Botafogo pois, ao menos até a minha saída do país, não havia complicação para comprar ingressos através do site oficial. A minha única reclamação foi o largo período em que meias entradas deixaram de ser comercializadas através da rede, obrigando alguns torcedores a comprar inteira ou a enfrentar o péssimo transporte carioca mais fila para obter uma entrada em jogos de muita procura.

No que diz respeito ao preço, o ingresso mais barato custou 40 euros. Somado ao fato de eu pagar via Paypal, que não me permitiu inserir um cartão internacional na mesma conta, este valor foi convertido para reais + imposto por compra no exterior. Não me lembro ao certo, mas o total saiu por volta de 130 reais para ver um jogo contra uma equipe pequena, o que costuma ser ligeiramente mais barato. Em resumo: caro pra cacete! Mas o que faz essa galera esgotar os ingressos independente do jogo por aqui?

O primeiro ponto é que embora eu tenha realizado o pagamento em reais no cartão de crédito brasileiro, eu ganho em euro. Uma coisa é passar as férias na Europa tendo convertido todas as suas economias em poucos euros, outra é ser residente e receber em euros. Neste caso, poderíamos dizer que os preços dos ingressos são bastante parecidos com os do Brasil se considerarmos 1 euro na França = 1 real no Brasil. Porém outro fator determinante nesta comparação é que o salário mínimo francês é 1300 euros. Olhando agora para o mínimo de cerca de 600 reais no Brasil, o excesso de impostos sobre produtos do dia a dia e ainda considerando que muitas famílias vivem com frações deste valor (o que também não deixa de ser verdade na França, mas em número muito menor e com um teto muito maior no salário), a coisa fica ainda mais feia. Está certo que Paris é sim uma das cidades mais caras do mundo*, mas com um pouco de boa vontade e sem extravagâncias é possível viver num lugar bom e tranquilo da cidade com um salário mínimo. Sem contar que os preços de aluguéis e mesmo de supermercado cai consideravelmente nas bordas e nas cidades satélites que também são muito bem cobertas pelo metro.

STADE DE FRANCE

Pulando para Saint-Dennis, mas valendo também para jogos de qualquer clube francês. No estádio da final da Copa de 98, o Stade de France, eu assisti França x Alemanha (amistoso) há um mês e irei ao França x Espanha amanhã (26/03) pelas eliminatórias da Copa. O ingresso para estes dois jogos mais França x Geórgia que eu não pude ir (e que ninguém aceitou meu ingresso que ofereci gratuitamente), custou 90 euros. 

Não é que os jogos internacionais sejam mais baratos que os da Liga. Um dos trunfos para vender ingressos é a venda em pacotes. Se o time terá um jogo de grande porte nas próximas semanas, mas o jogo de amanhã não tem a mínima importância para o torcedor, a solução é vender os ingressos que sobraram a um preço menor, mas em conjunto com o do jogo mais importante. Assim o torcedor que vai comprar o ingresso acaba comprando para ambos os jogos aproveitando o desconto, e os dois lados saem ganhando. Se você gosta de futebol assiste dois jogos por pouco mais que o valor de um. Se você está vendendo, mais vale vender um ingresso concorrido em conjunto com um outro sem interesse por, por exemplo, 50 do que um só a 45 e ainda mostrar o estádio vazio**. 

Além de toda essa estratégia, é fato que o dinheiro para trazer grandes jogadores e formar grandes equipes também conta. Para efeito de comparação, o Paris Saint-Germain teve média de público de 30.000 expectadores na temporada 2010-2011. Após ser comprado pela Qatar Investment Authority em 2011, seguida por contratações de peso, esta média subiu e chegou a 43 mil na atual temporada, num estádio de capacidade para 47 mil pessoas.

CAMBISTAS, UM MAL UNIVERSAL!

Uma curiosidade por aqui foi saber da existência de cambistas. Imaginava que tantas facilidades iriam desencorajar suas atitudes. Por outro lado, o fato de o estádio estar sempre com capacidade máxima pode ser considerada uma motivação para esta prática. Vi poucos cambistas no Parc des Princes provavelmente por ser um jogo sem muito apelo. Porém no França x Alemanha haviam vários na saída do trem. Não cheguei a ver o preço praticado pelos cambistas na ocasião.

Mas o que me causou mais choque foram as vendas de ingressos para o jogo das quartas da Champions League entre PSG x Barcelona. As vendas começaram às 10h de uma segunda e por volta de 13h já haviam acabado. Dizem as bocas que mais da metade da fila no Parc des Princes ficou sem ingresso e não houve venda pela internet. Minto! As vendas pela internet ainda estão rolando, por parte dos cambistas. Os preços para o ingresso quando procurei variavam entre 350 e 850 euros no eBay e no LeBonCoin. Algumas promoções ofereciam um pacote com 4 ingressos entre 2500 a 4 mil euros. Se alguém quiser ir na tribuna junto com os presidentes consegue um bilhete pela bagatela de 8.000 euros. Muitos dos vendedores se diziam funcionários do clube que tiveram acesso aos ingressos. Não posso comparar a margem de lucro dos cambistas desta partida, pois não foi possível sequer saber o preço do ingresso, mas tentarei verificar a variação de preços amanhã no jogo das eliminatórias.
Photo

E O BOTAFOGO COM ISSO?

Enfim, fica restando a relação do Botafogo com essa história. Acredito que vale a pena o clube e as federações repensarem o preço dos ingressos se querem realmente encher estádios. Apesar da queda no ranking das cidades mais caras do mundo, não é fácil viver no Rio de Janeiro, e se você morar em cidades satélites onde o custo de vida sobe menos assustadoramente, fatalmente terá problemas de transporte e de trânsito o que, ao menos até então, parece um problema diminuto em Paris e proximidades. 

Outro ponto interessante que poderia ser revisto é que, apesar de os preços dos ingressos no Engenhão serem fixos como aqui, acredito que valha a pena realizar venda de pacotes promocionais em jogos contra times de menor expressão, estimulando os torcedores a comparecerem em maior número independente da importância da partida. Porém três problemas me parecem impedir esta prática a curto prazo: (i) no Brasil as vendas acontecem meia semana antes da partida, (ii) o horário das partidas de meio de semana é simplesmente impraticável e (iii), que na verdade não chega a ser bem um problema visto que este desrespeito já é cometido há anos pelo clube: este tipo de venda não deveria diminuir ainda mais as vantagens(?) do sócio-torcedor.

____________________________________ 
* Apesar de Paris ser a 8ª cidade mais cara do mundo em 2013 e o Rio de Janeiro tenha caído para a 61ª posição, alguns artigos explicam este fenômeno pela desvalorização do Real. Eu tendo a concordar com esta visão pelo simples fato de que tem sido muito mais fácil viver em Paris com um salário mínimo do que em Duque de Caxias com quatro, não imagino o quanto doeria o bolso uma volta para o Rio. Não tenho informação do valor do Real entre 2010 e 2011, mas as pesquisas mostram que neste período o Rio pulou de 29º para 12º no ranking enquanto Paris caiu da 17ª para a 27ª posição.

** Hoje no almoço, dois colegas comentaram que o ingresso para amanhã custava de 60 euros, fiz um ótimo negócio mesmo sem assistir França x Geórgia.
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