Texto escrito para o BotafogoNews no dia 13/01/2013
-----
Ao ser ‘‘movido’’ para o cargo de correspondente internacional do BotafogoNews me bateu uma grande dúvida: Quais temas eu poderia comentar? A verdade é que após uma mudança tão radical, acompanhar o Botafogo ficou cada vez mais difícil durante os primeiros meses. Por outro lado, no velho continente tenho a experiência de conhecer o futebol e a organização dos clubes e estádios considerados os mais modernos do mundo. Então, depois de tanto escutar de jornalistas que o estádio mais moderno do Brasil possui nível europeu, pensei em iniciar uma série na qual irei compará-lo aos estádios do Velho Mundo.
Nesta primeira parte porém, farei apenas uma comparação mais geral sobre o valor dos ingressos que economizará leitura nas postagens seguintes. Em breve escreverei minhas impressões sobre o Parc des Princes, o Stade de France e possíveis outros estádios que eu frequentar nesta minha estadia, sempre os comparando-os com o estádio do Botafogo.
PARC DES PRINCES
Acredito que o primeiro ponto a ser comentado aqui seja o preço dos ingressos para entender um pouco a dinâmica dos estádios lotados que Maurício Assumpção sempre reclama mas, na minha humilde opinião, não faz por onde. No Brasil os torcedores reclamam a todo momento do valor das entradas, e sabemos bem que este é um dos pontos cruciais para que os estádios continuem vazios ao menos nas fases iniciais de qualquer competição.
Uma das facilidades de qualquer evento na França é a possibilidade de comprar as entradas pela internet. Simplesmente NÃO HÁ EVENTO SEM VENDAS PELA INTERNET (isso exclui o PSG x Barcelona que comentarei mais à frente). Apesar de o transporte parisiense te levar a qualquer ponto da cidade em questão de minutos a facilidade para comprar sem sair de casa é enorme. Outra facilidade no site do Paris em especial foi a possibilidade de pagar os ingressos via Paypal, o que diminui ainda mais o trabalho e o risco de procurar cartões e dados para inserir num formulário eletrônico. No que se refere à venda pela internet não tenho o que reclamar do Botafogo pois, ao menos até a minha saída do país, não havia complicação para comprar ingressos através do site oficial. A minha única reclamação foi o largo período em que meias entradas deixaram de ser comercializadas através da rede, obrigando alguns torcedores a comprar inteira ou a enfrentar o péssimo transporte carioca mais fila para obter uma entrada em jogos de muita procura.
No que diz respeito ao preço, o ingresso mais barato custou 40 euros. Somado ao fato de eu pagar via Paypal, que não me permitiu inserir um cartão internacional na mesma conta, este valor foi convertido para reais + imposto por compra no exterior. Não me lembro ao certo, mas o total saiu por volta de 130 reais para ver um jogo contra uma equipe pequena, o que costuma ser ligeiramente mais barato. Em resumo: caro pra cacete! Mas o que faz essa galera esgotar os ingressos independente do jogo por aqui?
O primeiro ponto é que embora eu tenha realizado o pagamento em reais no cartão de crédito brasileiro, eu ganho em euro. Uma coisa é passar as férias na Europa tendo convertido todas as suas economias em poucos euros, outra é ser residente e receber em euros. Neste caso, poderíamos dizer que os preços dos ingressos são bastante parecidos com os do Brasil se considerarmos 1 euro na França = 1 real no Brasil. Porém outro fator determinante nesta comparação é que o salário mínimo francês é 1300 euros. Olhando agora para o mínimo de cerca de 600 reais no Brasil, o excesso de impostos sobre produtos do dia a dia e ainda considerando que muitas famílias vivem com frações deste valor (o que também não deixa de ser verdade na França, mas em número muito menor e com um teto muito maior no salário), a coisa fica ainda mais feia. Está certo que Paris é sim uma das cidades mais caras do mundo*, mas com um pouco de boa vontade e sem extravagâncias é possível viver num lugar bom e tranquilo da cidade com um salário mínimo. Sem contar que os preços de aluguéis e mesmo de supermercado cai consideravelmente nas bordas e nas cidades satélites que também são muito bem cobertas pelo metro.
STADE DE FRANCE
Pulando para Saint-Dennis, mas valendo também para jogos de qualquer clube francês. No estádio da final da Copa de 98, o Stade de France, eu assisti França x Alemanha (amistoso) há um mês e irei ao França x Espanha amanhã (26/03) pelas eliminatórias da Copa. O ingresso para estes dois jogos mais França x Geórgia que eu não pude ir (e que ninguém aceitou meu ingresso que ofereci gratuitamente), custou 90 euros.
Não é que os jogos internacionais sejam mais baratos que os da Liga. Um dos trunfos para vender ingressos é a venda em pacotes. Se o time terá um jogo de grande porte nas próximas semanas, mas o jogo de amanhã não tem a mínima importância para o torcedor, a solução é vender os ingressos que sobraram a um preço menor, mas em conjunto com o do jogo mais importante. Assim o torcedor que vai comprar o ingresso acaba comprando para ambos os jogos aproveitando o desconto, e os dois lados saem ganhando. Se você gosta de futebol assiste dois jogos por pouco mais que o valor de um. Se você está vendendo, mais vale vender um ingresso concorrido em conjunto com um outro sem interesse por, por exemplo, 50 do que um só a 45 e ainda mostrar o estádio vazio**.
Além de toda essa estratégia, é fato que o dinheiro para trazer grandes jogadores e formar grandes equipes também conta. Para efeito de comparação, o Paris Saint-Germain teve média de público de 30.000 expectadores na temporada 2010-2011. Após ser comprado pela Qatar Investment Authority em 2011, seguida por contratações de peso, esta média subiu e chegou a 43 mil na atual temporada, num estádio de capacidade para 47 mil pessoas.
CAMBISTAS, UM MAL UNIVERSAL!
Uma curiosidade por aqui foi saber da existência de cambistas. Imaginava que tantas facilidades iriam desencorajar suas atitudes. Por outro lado, o fato de o estádio estar sempre com capacidade máxima pode ser considerada uma motivação para esta prática. Vi poucos cambistas no Parc des Princes provavelmente por ser um jogo sem muito apelo. Porém no França x Alemanha haviam vários na saída do trem. Não cheguei a ver o preço praticado pelos cambistas na ocasião.
Mas o que me causou mais choque foram as vendas de ingressos para o jogo das quartas da Champions League entre PSG x Barcelona. As vendas começaram às 10h de uma segunda e por volta de 13h já haviam acabado. Dizem as bocas que mais da metade da fila no Parc des Princes ficou sem ingresso e não houve venda pela internet. Minto! As vendas pela internet ainda estão rolando, por parte dos cambistas. Os preços para o ingresso quando procurei variavam entre 350 e 850 euros no eBay e no LeBonCoin. Algumas promoções ofereciam um pacote com 4 ingressos entre 2500 a 4 mil euros. Se alguém quiser ir na tribuna junto com os presidentes consegue um bilhete pela bagatela de 8.000 euros. Muitos dos vendedores se diziam funcionários do clube que tiveram acesso aos ingressos. Não posso comparar a margem de lucro dos cambistas desta partida, pois não foi possível sequer saber o preço do ingresso, mas tentarei verificar a variação de preços amanhã no jogo das eliminatórias.
-----
Ao ser ‘‘movido’’ para o cargo de correspondente internacional do BotafogoNews me bateu uma grande dúvida: Quais temas eu poderia comentar? A verdade é que após uma mudança tão radical, acompanhar o Botafogo ficou cada vez mais difícil durante os primeiros meses. Por outro lado, no velho continente tenho a experiência de conhecer o futebol e a organização dos clubes e estádios considerados os mais modernos do mundo. Então, depois de tanto escutar de jornalistas que o estádio mais moderno do Brasil possui nível europeu, pensei em iniciar uma série na qual irei compará-lo aos estádios do Velho Mundo.
Nesta primeira parte porém, farei apenas uma comparação mais geral sobre o valor dos ingressos que economizará leitura nas postagens seguintes. Em breve escreverei minhas impressões sobre o Parc des Princes, o Stade de France e possíveis outros estádios que eu frequentar nesta minha estadia, sempre os comparando-os com o estádio do Botafogo.
PARC DES PRINCES
Acredito que o primeiro ponto a ser comentado aqui seja o preço dos ingressos para entender um pouco a dinâmica dos estádios lotados que Maurício Assumpção sempre reclama mas, na minha humilde opinião, não faz por onde. No Brasil os torcedores reclamam a todo momento do valor das entradas, e sabemos bem que este é um dos pontos cruciais para que os estádios continuem vazios ao menos nas fases iniciais de qualquer competição.
Uma das facilidades de qualquer evento na França é a possibilidade de comprar as entradas pela internet. Simplesmente NÃO HÁ EVENTO SEM VENDAS PELA INTERNET (isso exclui o PSG x Barcelona que comentarei mais à frente). Apesar de o transporte parisiense te levar a qualquer ponto da cidade em questão de minutos a facilidade para comprar sem sair de casa é enorme. Outra facilidade no site do Paris em especial foi a possibilidade de pagar os ingressos via Paypal, o que diminui ainda mais o trabalho e o risco de procurar cartões e dados para inserir num formulário eletrônico. No que se refere à venda pela internet não tenho o que reclamar do Botafogo pois, ao menos até a minha saída do país, não havia complicação para comprar ingressos através do site oficial. A minha única reclamação foi o largo período em que meias entradas deixaram de ser comercializadas através da rede, obrigando alguns torcedores a comprar inteira ou a enfrentar o péssimo transporte carioca mais fila para obter uma entrada em jogos de muita procura.
No que diz respeito ao preço, o ingresso mais barato custou 40 euros. Somado ao fato de eu pagar via Paypal, que não me permitiu inserir um cartão internacional na mesma conta, este valor foi convertido para reais + imposto por compra no exterior. Não me lembro ao certo, mas o total saiu por volta de 130 reais para ver um jogo contra uma equipe pequena, o que costuma ser ligeiramente mais barato. Em resumo: caro pra cacete! Mas o que faz essa galera esgotar os ingressos independente do jogo por aqui?
O primeiro ponto é que embora eu tenha realizado o pagamento em reais no cartão de crédito brasileiro, eu ganho em euro. Uma coisa é passar as férias na Europa tendo convertido todas as suas economias em poucos euros, outra é ser residente e receber em euros. Neste caso, poderíamos dizer que os preços dos ingressos são bastante parecidos com os do Brasil se considerarmos 1 euro na França = 1 real no Brasil. Porém outro fator determinante nesta comparação é que o salário mínimo francês é 1300 euros. Olhando agora para o mínimo de cerca de 600 reais no Brasil, o excesso de impostos sobre produtos do dia a dia e ainda considerando que muitas famílias vivem com frações deste valor (o que também não deixa de ser verdade na França, mas em número muito menor e com um teto muito maior no salário), a coisa fica ainda mais feia. Está certo que Paris é sim uma das cidades mais caras do mundo*, mas com um pouco de boa vontade e sem extravagâncias é possível viver num lugar bom e tranquilo da cidade com um salário mínimo. Sem contar que os preços de aluguéis e mesmo de supermercado cai consideravelmente nas bordas e nas cidades satélites que também são muito bem cobertas pelo metro.
STADE DE FRANCE
Pulando para Saint-Dennis, mas valendo também para jogos de qualquer clube francês. No estádio da final da Copa de 98, o Stade de France, eu assisti França x Alemanha (amistoso) há um mês e irei ao França x Espanha amanhã (26/03) pelas eliminatórias da Copa. O ingresso para estes dois jogos mais França x Geórgia que eu não pude ir (e que ninguém aceitou meu ingresso que ofereci gratuitamente), custou 90 euros.
Não é que os jogos internacionais sejam mais baratos que os da Liga. Um dos trunfos para vender ingressos é a venda em pacotes. Se o time terá um jogo de grande porte nas próximas semanas, mas o jogo de amanhã não tem a mínima importância para o torcedor, a solução é vender os ingressos que sobraram a um preço menor, mas em conjunto com o do jogo mais importante. Assim o torcedor que vai comprar o ingresso acaba comprando para ambos os jogos aproveitando o desconto, e os dois lados saem ganhando. Se você gosta de futebol assiste dois jogos por pouco mais que o valor de um. Se você está vendendo, mais vale vender um ingresso concorrido em conjunto com um outro sem interesse por, por exemplo, 50 do que um só a 45 e ainda mostrar o estádio vazio**.
Além de toda essa estratégia, é fato que o dinheiro para trazer grandes jogadores e formar grandes equipes também conta. Para efeito de comparação, o Paris Saint-Germain teve média de público de 30.000 expectadores na temporada 2010-2011. Após ser comprado pela Qatar Investment Authority em 2011, seguida por contratações de peso, esta média subiu e chegou a 43 mil na atual temporada, num estádio de capacidade para 47 mil pessoas.
CAMBISTAS, UM MAL UNIVERSAL!
Uma curiosidade por aqui foi saber da existência de cambistas. Imaginava que tantas facilidades iriam desencorajar suas atitudes. Por outro lado, o fato de o estádio estar sempre com capacidade máxima pode ser considerada uma motivação para esta prática. Vi poucos cambistas no Parc des Princes provavelmente por ser um jogo sem muito apelo. Porém no França x Alemanha haviam vários na saída do trem. Não cheguei a ver o preço praticado pelos cambistas na ocasião.
Mas o que me causou mais choque foram as vendas de ingressos para o jogo das quartas da Champions League entre PSG x Barcelona. As vendas começaram às 10h de uma segunda e por volta de 13h já haviam acabado. Dizem as bocas que mais da metade da fila no Parc des Princes ficou sem ingresso e não houve venda pela internet. Minto! As vendas pela internet ainda estão rolando, por parte dos cambistas. Os preços para o ingresso quando procurei variavam entre 350 e 850 euros no eBay e no LeBonCoin. Algumas promoções ofereciam um pacote com 4 ingressos entre 2500 a 4 mil euros. Se alguém quiser ir na tribuna junto com os presidentes consegue um bilhete pela bagatela de 8.000 euros. Muitos dos vendedores se diziam funcionários do clube que tiveram acesso aos ingressos. Não posso comparar a margem de lucro dos cambistas desta partida, pois não foi possível sequer saber o preço do ingresso, mas tentarei verificar a variação de preços amanhã no jogo das eliminatórias.
E O BOTAFOGO COM ISSO?
Enfim, fica restando a relação do Botafogo com essa história. Acredito que vale a pena o clube e as federações repensarem o preço dos ingressos se querem realmente encher estádios. Apesar da queda no ranking das cidades mais caras do mundo, não é fácil viver no Rio de Janeiro, e se você morar em cidades satélites onde o custo de vida sobe menos assustadoramente, fatalmente terá problemas de transporte e de trânsito o que, ao menos até então, parece um problema diminuto em Paris e proximidades.
Outro ponto interessante que poderia ser revisto é que, apesar de os preços dos ingressos no Engenhão serem fixos como aqui, acredito que valha a pena realizar venda de pacotes promocionais em jogos contra times de menor expressão, estimulando os torcedores a comparecerem em maior número independente da importância da partida. Porém três problemas me parecem impedir esta prática a curto prazo: (i) no Brasil as vendas acontecem meia semana antes da partida, (ii) o horário das partidas de meio de semana é simplesmente impraticável e (iii), que na verdade não chega a ser bem um problema visto que este desrespeito já é cometido há anos pelo clube: este tipo de venda não deveria diminuir ainda mais as vantagens(?) do sócio-torcedor.
____________________________________
* Apesar de Paris ser a 8ª cidade mais cara do mundo em 2013 e o Rio de Janeiro tenha caído para a 61ª posição, alguns artigos explicam este fenômeno pela desvalorização do Real. Eu tendo a concordar com esta visão pelo simples fato de que tem sido muito mais fácil viver em Paris com um salário mínimo do que em Duque de Caxias com quatro, não imagino o quanto doeria o bolso uma volta para o Rio. Não tenho informação do valor do Real entre 2010 e 2011, mas as pesquisas mostram que neste período o Rio pulou de 29º para 12º no ranking enquanto Paris caiu da 17ª para a 27ª posição.
** Hoje no almoço, dois colegas comentaram que o ingresso para amanhã custava de 60 euros, fiz um ótimo negócio mesmo sem assistir França x Geórgia.