Ao longo de 2016 muitos disseram que 2016 foi um ano horrível e traiçoeiro. Para mim, por outro lado, o segundo adjetivo seria bastante adequado, mas não o primeiro. Mas será que existe algum adjetivo que fosse comum a todas as situações?
Para o Brasil, de fato o ano foi terrível. O ano começou com um duro golpe na nossa já não muito confiável democracia (não, eu não sou fã da Dilma nem do PT, mas isso não muda o fato!), e terminou com um acidente aéreo que teve o poder de fazer torcidas criminosas se unirem por alguns dias em luto. Para o mundo, tivemos a notícia do Brexit e da eleição de Trump nos EUA, que deve impulsionar o movimento de ultra direita na Alemanha e na França. Quem se arriscar a fazer previsões sobre a Europa no futuro próximo pode ser internado desde já.
Para mim, por outro lado, o ano foi mágico. Traiçoeiro, como disse anteriormente, no sentido de que em 6 semanas perdi três pessoas muito próximas. Mas ao mesmo tempo foi um ano de mudanças tão grandes quanto as que estão acontecendo no mundo.
Em 2012, morando na França, comentei que gostaria de voltar ao Rio de Janeiro somente em 2016, ao final do mandato do Eduardo Paespalho na prefeitura. Curiosamente, talvez prevendo o “Estado Universal”, 2016 me reservou a liberdade do Rio de Janeiro. Foi o ano que me mudei. Para quem raramente passa por São Paulo, é no mínimo inesperada esta mudança para Campinas. Inesperado ter uma casa na qual sou o único responsável pela organização, podendo deixa-la “do meu jeito”. Inesperado o fim dos engarrafamentos de 3h para trajetos de 20 minutos, o que acabou me tirando o tempo utilizado para ouvir podcasts. Que bom! Assim eu me foco nos que realmente são relevantes. Liberdade da burocracia da UFRJ e a inesperada eficiência nos trâmites e dos funcionários da Unicamp que, também inesperadamente, me lembra demais os tempos de CEA-Saclay.
Inesperadamente, eu que não me via com futuro nas ciências cognitivas no Brasil, me tornei professor de Psicolinguística da 2a melhor universidade da América Latina, o que também inesperadamente me levou de volta ao NeuroSpin, numa situação completamente diferente daquela de 3 anos atrás. Inesperadamente já tenho sala para meu próprio laboratório, três excelentes alunos, credenciamento na Pós Graduação e uma boa relação com a Fonoaudiologia e com o Comitê de Ética, conquistas que levariam anos se eu me mantivesse no Rio de Janeiro.
Mais inesperado foram as consequências de 2015. Após ouvir (e de certa forma concordar) que eu poderia escrever minha tese de 398 páginas em menos de 100, com uma argumentação polêmica em relação a Linguística, mas que incentiva a sua relação com a Psicologia Cognitiva, fui indicado pelo Programa de Pós Graduação em Linguística da UFRJ para o Prêmio Capes de Tese 2016. A felicidade do reconhecimento interno durou alguns meses, até se transformar em um reconhecimento nacional, sendo eleito o autor da melhor tese de Linguística defendida em 2015 no país. Sem dúvidas aquele garoto que entrou na graduação há 13 anos atrás não esperaria por tamanho reconhecimento. Sequer o recém contratado professor da Unicamp no início do ano.
Mas como 2016 ainda mantém o título de traiçoeiro, no momento em que me aproximaria de uma das paixões da minha vida, resolveu também retirá-la do roteiro alguns meses antes. 2016 teve disso! A virtude de demonstrar o porquê de a felicidade não ser um sentimento, mas o resultado de uma relação. Não se pode ser feliz sem que aconteçam coisas ruins. Não se pode ser triste sem que aconteçam coisas boas. A diferença está na proporção. E a proporção de 2016, ao menos pra mim, foi na medida exata para aumentar a auto estima sempre lembrando que a vida não é feita apenas de flores. E lembrar do que eu posso fazer e de onde eu posso chegar ao fazer o que gosto! E entender que chorar desta paixão me fez sorrir ao lembrar o porquê de ela ser tão especial, e de seus "sorrisos com a boca e com os olhos". E me fazer ver que esta é a melhor forma de levar a vida, e que eu posso leva-la assim.
O Brasil também, embora no sentido contrário, precisará aprender com 2016 para entender onde quer e onde pode chegar, e como pretende levar os seus próximos anos. Os arrependidos britânicos também precisarão aprender com o Brexit para entender seu poder de mudar o país e suas consequências. Os americanos precisarão aprender com o Trump o caminho que querem seguir para daqui a 4 anos. Só espero mesmo é que Alemanha e França tenham aprendido suficientemente com os dois pioneiros, e possam livrar este ano da mesma sensação que o mundo experienciou em 2016.
Enfim, este foi um ano intenso! Não melhor nem pior que os outros, apenas mais intenso em suas emoções, alegrias e frustrações. Enquanto uma mão retira algumas felicidades, a outra os traz na mesma proporção.
2016, independente de tudo, foi um ano de realização, um ano de transformação! Transformações que estão mudando o Brasil, que estão mudando o mundo e, principalmente, que estão ME mudando. E que continue mudando. Infelizmente, ao menos em relação ao Brasil e ao mundo, este caminho parece ser o pior possível. Mas como dizia um amigo, as doenças só melhoram depois de alcançar o seu ápice! E ápice da minha vida pós graduação passou um pouco antes do ápice da onda ultraconservadora que atingiu o Brasil e o mundo. Espero que, em breve, a sina se repita e esta doença seja solucionada, que o Brasil e o mundo se tornem um lugar melhor pra viver, assim como Campinas tem sido um lugar melhor do que o Rio de Janeiro, ao menos pra mim.
E feliz 2017 a todos!
Para o Brasil, de fato o ano foi terrível. O ano começou com um duro golpe na nossa já não muito confiável democracia (não, eu não sou fã da Dilma nem do PT, mas isso não muda o fato!), e terminou com um acidente aéreo que teve o poder de fazer torcidas criminosas se unirem por alguns dias em luto. Para o mundo, tivemos a notícia do Brexit e da eleição de Trump nos EUA, que deve impulsionar o movimento de ultra direita na Alemanha e na França. Quem se arriscar a fazer previsões sobre a Europa no futuro próximo pode ser internado desde já.
Para mim, por outro lado, o ano foi mágico. Traiçoeiro, como disse anteriormente, no sentido de que em 6 semanas perdi três pessoas muito próximas. Mas ao mesmo tempo foi um ano de mudanças tão grandes quanto as que estão acontecendo no mundo.
Em 2012, morando na França, comentei que gostaria de voltar ao Rio de Janeiro somente em 2016, ao final do mandato do Eduardo Paespalho na prefeitura. Curiosamente, talvez prevendo o “Estado Universal”, 2016 me reservou a liberdade do Rio de Janeiro. Foi o ano que me mudei. Para quem raramente passa por São Paulo, é no mínimo inesperada esta mudança para Campinas. Inesperado ter uma casa na qual sou o único responsável pela organização, podendo deixa-la “do meu jeito”. Inesperado o fim dos engarrafamentos de 3h para trajetos de 20 minutos, o que acabou me tirando o tempo utilizado para ouvir podcasts. Que bom! Assim eu me foco nos que realmente são relevantes. Liberdade da burocracia da UFRJ e a inesperada eficiência nos trâmites e dos funcionários da Unicamp que, também inesperadamente, me lembra demais os tempos de CEA-Saclay.
Inesperadamente, eu que não me via com futuro nas ciências cognitivas no Brasil, me tornei professor de Psicolinguística da 2a melhor universidade da América Latina, o que também inesperadamente me levou de volta ao NeuroSpin, numa situação completamente diferente daquela de 3 anos atrás. Inesperadamente já tenho sala para meu próprio laboratório, três excelentes alunos, credenciamento na Pós Graduação e uma boa relação com a Fonoaudiologia e com o Comitê de Ética, conquistas que levariam anos se eu me mantivesse no Rio de Janeiro.
Mais inesperado foram as consequências de 2015. Após ouvir (e de certa forma concordar) que eu poderia escrever minha tese de 398 páginas em menos de 100, com uma argumentação polêmica em relação a Linguística, mas que incentiva a sua relação com a Psicologia Cognitiva, fui indicado pelo Programa de Pós Graduação em Linguística da UFRJ para o Prêmio Capes de Tese 2016. A felicidade do reconhecimento interno durou alguns meses, até se transformar em um reconhecimento nacional, sendo eleito o autor da melhor tese de Linguística defendida em 2015 no país. Sem dúvidas aquele garoto que entrou na graduação há 13 anos atrás não esperaria por tamanho reconhecimento. Sequer o recém contratado professor da Unicamp no início do ano.
Mas como 2016 ainda mantém o título de traiçoeiro, no momento em que me aproximaria de uma das paixões da minha vida, resolveu também retirá-la do roteiro alguns meses antes. 2016 teve disso! A virtude de demonstrar o porquê de a felicidade não ser um sentimento, mas o resultado de uma relação. Não se pode ser feliz sem que aconteçam coisas ruins. Não se pode ser triste sem que aconteçam coisas boas. A diferença está na proporção. E a proporção de 2016, ao menos pra mim, foi na medida exata para aumentar a auto estima sempre lembrando que a vida não é feita apenas de flores. E lembrar do que eu posso fazer e de onde eu posso chegar ao fazer o que gosto! E entender que chorar desta paixão me fez sorrir ao lembrar o porquê de ela ser tão especial, e de seus "sorrisos com a boca e com os olhos". E me fazer ver que esta é a melhor forma de levar a vida, e que eu posso leva-la assim.
O Brasil também, embora no sentido contrário, precisará aprender com 2016 para entender onde quer e onde pode chegar, e como pretende levar os seus próximos anos. Os arrependidos britânicos também precisarão aprender com o Brexit para entender seu poder de mudar o país e suas consequências. Os americanos precisarão aprender com o Trump o caminho que querem seguir para daqui a 4 anos. Só espero mesmo é que Alemanha e França tenham aprendido suficientemente com os dois pioneiros, e possam livrar este ano da mesma sensação que o mundo experienciou em 2016.
Enfim, este foi um ano intenso! Não melhor nem pior que os outros, apenas mais intenso em suas emoções, alegrias e frustrações. Enquanto uma mão retira algumas felicidades, a outra os traz na mesma proporção.
2016, independente de tudo, foi um ano de realização, um ano de transformação! Transformações que estão mudando o Brasil, que estão mudando o mundo e, principalmente, que estão ME mudando. E que continue mudando. Infelizmente, ao menos em relação ao Brasil e ao mundo, este caminho parece ser o pior possível. Mas como dizia um amigo, as doenças só melhoram depois de alcançar o seu ápice! E ápice da minha vida pós graduação passou um pouco antes do ápice da onda ultraconservadora que atingiu o Brasil e o mundo. Espero que, em breve, a sina se repita e esta doença seja solucionada, que o Brasil e o mundo se tornem um lugar melhor pra viver, assim como Campinas tem sido um lugar melhor do que o Rio de Janeiro, ao menos pra mim.
E feliz 2017 a todos!